19 de dez. de 2011

COMO É DOCE UM DESPERTAR
Nos teus braços sou um lago,
Água calma a viajar,
Teus cabelos, caracóis,
Guardam tanto sobre nós.

Dunas são nossos lençóis
E o vento é construir
A estrada a seguir.
Não sou mais tão solitário.

Meus dedos são operários,
Tecendo mil labirintos.
Teu riso enche meu lago
De sorrisos, de afagos,
De mesuras que ofusco.

Nessa noite, em que te busco
Me desfaço em paixões.
Sou poeta, sou menino
Corredor, sou arvoredos
De passagens, sem ter medos.

O teu corpo é um mistério.
Teus segredos são etéreos.
O lago são teus abraços
Espirais que prendem em laços
Estrelas e vagalumes,
E são nuvens que escondem
Meus segredos e cansaços.

10 de dez. de 2011

Só espero que, quando eu morrer, só me venham visitar aqueles que me amaram pelo que eu vivi , não porque morri.

23 de nov. de 2011

O MAR E A SOLIDÃO

O arfar de ventos marinhos
Sopros traz de solidão.
O mar e sua imensidão.
Em seu ventre abriga tantos seres...
Cada um com seus ventres e entranhas,
Para o mar, serão estranhas?
O mar e sua solidão...

Na sua fúria se mistura com tais seres,
Com seus quereres...
Depois se reflui manso, braços abertos,
Marulhando sua imensidão.
O marinheiro que lhe singra
Derrama do seu barco sua solidão.

Parado aqui, esperando o mar em mim,
Esperando que se derrame em mim
Com ondas bem profundas,
Não ondas de solidão...
Ondas que me venham a esmo,
 Pois escondo a solidão em mim mesmo.

Sou o marinheiro, sou o barco,
Sou o arco que dardeja a solidão.
Sou a réplica do amor.
Da teia bem tecida sou o fio.
Como o mar, eu enfrento desafios,
Tenho bichos pregados nas entranhas...
Como o mar, adormeço e, nas manhãs,
Sorrio pra a solidão que me acompanha.


9 de nov. de 2011

UMA DECISÃO CORAJOSA
Quando pensamos que sabemos tudo sobre a vida, ou quase tudo, amparados pela experiência que ela nos confere ao longo desses anos todos de luta, sofrimentos, alegrias, enfim, todos os ingredientes que, digamos assim, poderiam se tornar em mais um desses livros de autoajuda, eis que o inusitado, esse tempero bom, prega-nos peças para que possamos refletir sobre.
Hoje à noite (já é madrugada) fui ao encontro de amigos ligados à música, para, além de ouvir, tocar e cantar algumas melodias, também conversar, trocar ideias, enfim, um excelente programa para uma descontraída noite de terça feira.
Claro, confesso, que, ultimamente, venho refletindo sobre relações humanas, casamentos, vida a dois e como a rotina disso tudo, por vezes, estraga um relacionamento. Se não houver maturidade, sinceridade, pessoas que se amam tendem a crer que o casamento, ou relação a dois, se preferem, acabar-se-ão pelo confinamento compulsório a que estão destinadas certas relações.
Na minha modesta opinião, quando cortamos o nosso cordão umbilical, dão-nos a senha da liberdade. Ficamos livres daquela que nos abrigou por nove meses, provendo-nos de nosso todo essencial, mínimo, de vida. Somos livres.
Mas o que ouvi, hoje (não dormi, ainda) sobre o fim de um a história de amor, encantou-me, sobremaneira. Acho que, ainda, não havia tido contato com tal experiência.
Uma mulher, muito elegante, bonita e com um charme que faria qualquer homem tentar uma aproximação vulgar numa noite quente de nosso verão, dedicou-me algumas horas de seu tempo e me contou sobre sua recente separação do homem a quem verdadeiramente amou. Era seu segundo marido e com quem tem um filho de três anos. Sofre de uma doença incurável, de natureza psiquiátrica. Isso tornaria a sua relação insustentável, inclusive com a iminência de uma tragédia maior.
A separação foi dolorosa, ainda que necessária. O amor, que ainda existe, foi afastado em prol de uma segurança pessoal e de seu filho.
Há três anos estão separados, idade de seu rebento.
A coragem dessa mulher tocou-me de forma contundente. Não se trata aqui de uma separação passional, onde o ódio se mistura com o amor dantes jurado. Não eram marinheiros de primeira viagem. Amavam-se e ele ainda a ama. A doença é barreira, mas o seu gesto não foi de covardia. Dele não cobrou nada, apenas compreensão.
A noite, para mim, ficou serena. Ao meu lado uma bela mulher, inteligente, corajosa, decidida, dona de seu próprio nariz. Uma mulher que trabalha e dedica sua vida aos seus filhos, um de cada casamento, e que consegue mostrar que pode ser maior do que amor que sentia pelo seu companheiro, mas, percebeu que a separação era o melhor caminho, para que ambos continuassem vivos e ela possa cumprir seu desiderato de mãe.
Se vai encontrar um novo amor, não sei. Mas será feliz aquele que conseguir chegar perto de um espírito tão honesto e generoso.
Hoje eu vou dormir em paz. Com coragem de enfrentar a minha vida.

6 de nov. de 2011

MAS, O SENHOR ESTAVA TÃO BEM, AGORA HÁ POUCO!
Ao me acordar, hoje cedinho, dei-me a ouvir o cd da Banda de Pau e Corda, um grupo de Pernambuco, que há anos não mostra um novo trabalho, talvez bloqueada pela fúria assassina que tomou conta das gravadoras de nosso País, onde só se pode lançar sertanejos e forrós de gostos e tessituras duvidosos e, dentre as canções, uma belíssima: RECADO. Sem entender a louçania do meu gesto, lembrei-me da conversa amena e agradável que tive ontem, ao final da noite, com meu amigo e escritor Álder.
A música é uma apologia à valentia do Lampião e Maria Bonita. Em sua incursão, a vida sangrenta do sertão nordestino é descrita, mesmo que de forma melodiosa, em sua real crueza.
E onde o meu amigo é lembrado em tal música?
Falávamos sobre fobias. É certo que nós todos temos as nossas. Uns mais, outros menos, mas somos passageiros delas e, para sermos aparentemente normais, temos que conviver com elas para que não fiquemos mais depressivos mercê da vida louca e do azáfama da cidade grande com que, diuturnamente, convivemos.
Falava eu de minha acrofobia e de um fato ocorrido comigo, em 2009, quando estava em Brasília. Fomos, eu e minha mulher, que não conhecia a cidade, à Torre de Televisão e fui mostrar-lhe a bela visão que se descortina aos olhos de quem lá se encontra, quando se chega ao mirante. Tomei-me de um pânico repentino e tão violento que mal consegui andar em direção às grades que, mesmo com toda a proteção, a mim me parecia que eu voaria sem rumo e sem direção pelo Planalto Central, ao sabor do forte vento que soprava, na ocasião. Segurei-me no mastro central e de lá segui, a passos lentos e trôpegos rumo ao elevador, temendo escoar-me pelos diminutos furos sob meus pés, no patamar da torre.
Foi uma aflição. Até então, desconhecia a extensão dessa minha inusitada fobia.
Álder, então arrematou, com maestria, que uma fobia vem sempre associada a outra. Pois muito bem. Abriu-me ele o seu coração e contou-me um fato de sua vida em que se evidenciou uma claustrofobia.
Contou-me que estava em um elevador, com seu filho e outros parentes, quando o elevador se abre para que uma senhora entrasse. A tal senhora fez referência à lotação do elevador e o nosso amigo, tangido pelos rompantes do Lampião, e pela nossa própria criação machista, disse: “ minha senhora, não tema, se morrermos, seremos todos nós”, e ficou em posição de desafiante de todos os perigos do mundo, enquanto a referida senhora evidenciava um pânico, desmedido sob a ótica do nosso herói.
Acontece o imprevisto. O elevador sofre uma repentina pane e trava entre um andar e outro. Não mais que trinta segundos, mas o suficiente para que o nosso indigitado herói saísse da valentia machista e voluptuosa de Lampião para o medo absoluto. E demonstrou tudo isso com gestos, suores, olhos esbugalhados, dedos cruzados e uns “ai meu Deus, acuda-nos”, dignos de uma criança que se perde dos pais em um parque de diversão. A senhora olha para ele e diz: “mas o senhor estava tão bem, agora há pouco!”.
O elevador se abriu, o Álder foi um primeiro a correr, encontrando num banquinho sua tábua de salvação e onde se pôs a chorar, copiosamente, tomado de grande aflição e, também alívio.
Voltei para a Banda de Pau e Corda, rindo às escâncaras, mas refletindo  sobre a  fraqueza do ser humano, principalmente de nós, machistas, que sucumbimos, muitas vezes, a dores tão simples.


30 de out. de 2011

OUTRA VISÃO
A vida vai lhe ensinar
O que eu não pude aprender,
A vida vai lhe mostrar
O quanto eu amo você.

A vida me é tão fugaz
Quem sabe, eu aprenda mais
Falar menos, ouvir mais.
A vida, às vezes, é mordaz.

A vida vai lhe ensinar
O que é reinventar o amor,
Aquele esquecido em algum canto,
Empoeirado... obsoleto.
Que hoje mora em si mesmo.

A vida vai me ensinar
O que eu nunca aprendi,
O que eu nunca percebi.

A vida vai me ensinar.

26 de set. de 2011

GOTAS AMARGAS, DE ARTHUR DE CARVALHO
Diariamente, somos surpreendidos por fatos inusitados que nos acontecem e que, só depois, tentamos dar uma direção ou, sei lá, algum sentido.
Nós, cronistas, carregamos no âmago a necessidade da observação de fatos cotidianos para, na nossa humilde análise, transpô-los para o papel, digo, tela dos nossos micros.
Dia desses, num desses bate papos informais com amigos, nos Docentes e Decentes, jogávamos conversa fora, falando sobre amenidades: futebol, os destinos de nosso país, a proximidade da copa do mundo, enfim, uma descontração que nos deixaria mais “maneiros”, como se diz, e partiríamos para as nossas casas, como sempre, agradecendo a Deus pelas amizades e por termos amigos tão próximos.
De repente, um cidadão se aproxima, talvez percebendo a nossa desenvoltura alegre em discorrer sobre vários temas ou, talvez, querendo fugir do seu solilóquio, pediu-nos para compartilhar daqueles momentos. Claro, aquiescemos e demos continuidade ao que fazíamos, dando as devidas oportunidades de inserção na conversa ao nosso inesperado conviva.
Começamos a observar que o nosso “convidado” danou-se (como diz bem o bom cearense) a emitir opiniões descabidas sobre temas vários, o que nos causou espécie, sobretudo quando presente estava um querido amigo, Álder Teixeira,  escritor, poeta, de uma refinadíssima educação, além de um desembargador, que não posso declinar seu nome e outros de quase mesma escol, fazendo-nos nos permitir apartes fortuitos, numa fática função, apenas para se dizer em linha com os assuntos ali comentados.
Confesso, às vezes minha paciência fica por um fio, mormente quando se trata de amargar tipos de opiniões distantes do objeto em foco ou ter que aturar invasões grosseiras sobre o que se conversa, mesmo sendo conversa fora. Deu-se o inusitado quando o Álder resolveu falar sobre literatura, justo ele, cujo cabedal de cultura faz inveja, no bem sentido, a muita gente.
Falou-nos, Álder, sobre um belo conto de Machado de Assis, Missa do Galo, e de como os ícones do nosso escritor máster do realismo lhe impregnavam de admiração. O nosso amigo redarguiu, quis imiscuir-se no tema, discordando aqui e ali de algo que, concluímos, não conhecia. Outros livros foram citados e, sobre todos eles, uma tácita observação acontecia por parte do nosso indigitado amigo.
Ocorreu-me a apoteose: indaguei:
___amigo, estou acabando de ler um livro e estou com dificuldade de entendê-lo. Talvez , meus parcos conhecimentos não mos permitam absorver.
___qual? Indaga-me o genérico Apolo da cultura.
___ Gotas Amargas, de Arthur de Carvalho.
____esse é o meu escritor predileto! Só não lhe contarei o final porque seria uma desfeita de minha parte! É um dos melhores romances que já li... mas, ainda não chegou em nossas livrarias. Recebi pela netshoes, entrega imediata. Pense num livro!
Olhei para o Álder, como a que pedir desculpas pelo erro que não cometemos.
Pagamos a conta e fomos para casa baleados em nossos parcos conhecimentos.
Pois sim!


17 de set. de 2011

DEIXA EU MORRER UM POUCO
Caminhando, bem sozinho,
Buscando ar puro, novas energias,
Deparei-me com a minha dor.
Perguntou-me: tenho te visitado?
-Todos os dias, por que não?
-Dói-te muito a minha invasão?
Sou aquela que te povoa todos os dias
Sem sequer saber o quanto me suportas
Ou o quanto te posso maltratar...
-Não sei quanto, mas me fazes sofrer demais.
-Não és, então, capaz, de me tirar do teu dia a dia,
Teres a mão forte que me desnorteia,
Que me faça infeliz, como tu, por um minuto apenas?
-Talvez eu possa.
Talvez me encontre entre escombros existenciais,
Talvez remova de uma face a minha face mais animal...
Talvez, para teu grande espanto,
Deixe de amar tanto e tanto.
Acompanhas-me vida toda essa afora
E não vai ser agora que me hás de proteger.
Isso não.
Talvez... talvez irás te embora,
 agora sem alarde.
Se não fores, peço-te,
Deixe que eu morra ali um pouco, agora,
Talvez a gente se encontre, então, mais tarde.

6 de set. de 2011

SORRISO DA ÚLTIMA LÁGRIMA
Espera,
 suspende um pouco a pá a ser usada
Para cobrir de terra os olhos meus.

Espera,
 nesse derradeiro adeus
Que eu diga para ti que o ser humano
Não é eterno, e nem é absoluto,
É, quem sabe,
 um ente ensimesmado em seu luto,
Um palhaço que faz rir, para sozinho
Desnudar o seu viver, que é tão bruto.

Espera,
 minha filha,
Se me julgas, se me jogas na cadeia,
A ti te digo:
O amor, essa coisa que carrego em minhas veias,
Não pode ter nascido só no coração.
Só no coração.

Espera,
 minha, filha,
Resta um pouco de terra nesta pá alçada,
Pensa um pouco, o mundo é quase nada
Vê... olha para cima... vê...
Olha o sol.
 hoje ele brilha... brilha fortemente
Enquanto essas trevas me rodeiam
 Como se eu fosse uma ilha.
Espera,
Não desfeches, agora, o golpe derradeiro,
Teu primeiro choro sorvi inteiro.
Foi inverno?, foi verão?
Não sei.
Foi verdadeiro.
Pronto.
Lança o resto de pó em minha face,
Não morri, ainda,
Meu corpo, talvez, algo vivace...
Minha alma?

 Não, essa sim se foi embora,
Como eu, sozinho, inda ela chora
Por quem morre, por quem inda agora nasce.
Minha filha,
 por favor,
minha menina,
Ultima o ato:
Fecha, por favor, essa cortina.

26 de ago. de 2011

CANTO SEM BRILHO

Canto esse meu canto bandido,
com sorriso escondido,
disfarçado, distraído,
flor que morre ao nascer.

Canto mas nem sei se tanto canto
Tem o brilho do encanto
Que persigo e, no entanto,
Me faz rir do meu sofrer.

 Canto pra esse amor de desencanto
 esquecido em algum canto
 sem raiz, sem formosura,
sem motivo pra cantar.

Hoje sei, perdi o brilho,
Trem saído do seu trilho,
Sem poder olhar pra trás.

Hoje sei, que por enquanto
Busco um lume pro meu canto
Que me sirva de acalanto
Que me embale e por amor
Eu não sofra nunca mais.

ACHO QUE O AMOR

Acho o amor uma pedreira,
Quando cai numa peneira
Se desmancha na poeira
Encobrindo o ceu e o mar.
 Acho que é um tormento nebuloso,
 Cão sarnento e raivoso
 Que só pode machucar.

 Acho o amor uma baladeira,
 Derrubando passarinho,
 Que saiu lá do seu ninho
Para o mundo admirar.
 Acho que o amor é uma fogueira,
 Tanto brilha como queima,
É fagulha que inebria
Uma noite de luar.

 Acho que o amor tem nove horas,
 Só quem marca é quem chora
 Tanta dor de se amar,
 Acho que o amor é traiçoeiro
 Se resolve no banheiro,
Se o desejo é só gozar
 Acho o amor uma piada,
Só entende quem a conta
 Que só rir quem faz chorar.

Acho, eu nunca amei na vida
 Pois reclamo de um amor
 Que eu não tive em minha vida.
 Acho que quem ama não concorda
 Que o amor é passageiro,
Que é apenas um momento,
Que se tem como alimento
Que se quer pra vida inteira.

SEGREDOS DE AMOR

Brincam em mim tantos segredos de amar,
Como se fossem revelações de medo,
Arremedos de revelações,
Turvar-se de paixões que se morreram sós.
Doces são todas as paixões e benditas sois.

Amargo perdê-las,
Triste  viver longe delas.
Aventuras minhas que terminaram em mim,
Brincando dentro de mim
Como se meu corpo fosse envelope de tristezas.
De frustrações,
Sensações do derramar-se o último gole d’água
Perder-se, sem mágoas, nesse emaranhado de ilusões
Sem trazer de volta os segredos dos perdidos amores.

Quem amarão  nesse momento?  Sei lá...
Sei, apenas, que firmando os olhos em alguma estrela vária,
Sinto-me, completamente só, nessa noite solitária.


Fortaleza, 26 de agosto de 2011


PORTEIRAS

Dia dessas, noite dessas,
Nossos olhos se encontrarão.
Será que perguntarão pelas lágrimas derramadas?
Aí, não importarão  tormentas,
Nem tempestades que provocamos nós.
Por que desfazê-las agora?  Não, amor,
Nosso tempo é relógio sem hora, espaço vazio.
Por que abrir tantas porteiras, que se revelam cruéis?
Por que, se a liberdade fugiu e é rio que morre no mar?
Somos náufragos de uma vida, que, nessa noite,
Nem espera o dia amanhecer.
















23 de ago. de 2011

AMOR:  ASSIM COMO NASCE À PRIMEIRA VISTA, DEVERIA MORRER À ÚLTIMA VISTA.

Dia desses, com tristeza, recebi a notícia da separação de uma amiga minha. Com tristeza, digo, porque o separar-se é algo que envolve sentimentos quebrados, rotinas dantes não avaliadas, que muitas vezes ficam acumuladas no inconsciente, mas, quando afloradas, são piores do que uma guerra atômica em seu zênite.
Caminhei alguns minutos em volta de mim mesmo, como quem mergulha em si mesmo, dentro de suas experiências de, também, separado e calculei o momento em que iria falar com minha amiga sobre o que houvera acontecido.
De chofre, vi, em derredor, as paixões inebriantes que sufocam os enamorados com suas juras eternas de amor, de fidelidade, de amar-se e de ser-se uma para o outro a vida inteira, como se a vida fosse o jardim desenhado, florido e apascentado por balir de ovelhas, mugires de vacas e folhas caídas de árvores primaveris, anunciando um novo alvorecer, um novo florescer de paz, de amor inconteste, sem máculas e sem problemas. Esse é o mais lindo e sacro recôndito dos amantes. Deveria, portanto, transcender-se.
Infelizmente, a vida não é azul e nem composta somente de ceu de brigadeiro. A vida é um conturbar-se perene de dificuldades e desafios, onde aqueles que a ousam atravessar deveriam levar em conta o companheirismo de quem se lhes sustenta o cantil necessário à jornada e reparte o pão que lhes fará seguir adiante. O darem-se as mãos é o mais singelo ato de amor quando se avistam tempestades.
Em todos os cantos e poemas, romances e conversas no divã, busca-se o tal equilíbrio sentimental. Nós somos a síntese diáfana do amor e do ódio. Somos aríetes da emoção e do imediatismo da paixão. Seres apaixonados não olham a realidade. São tão fortes em si mesmos que o conselho do cuidado soa-lhes obstáculos que não podem ser considerados.
O amor, assim como nasce entre duas pessoas, deveria morrer da mesma forma. Os sentimentos ante a perda, quiçá, irreparável por parte do homem, que haverá de se sentir o último da espécie em imaginar sua amada em outros braços, buscando um novo amor, dantes lhe jurado, ou da mulher que se vê abandonada, como se fosse vindita por algo que lhe fugira à compreensão, são exatamente iguais: o fracasso.
Restou-me dizer, à minha amiga, essas palavras e unir-me a ela em seu sofrimento. Sofrimento de quem já passou por isso e escapou quase ileso. Sofrimento de quem pensa no ser humano como o ser que é humano e que tem suas verdades, seus momento, seus mistérios, suas glórias e decepções. Sofrimentos que alimentam a necessidade de se recompor e enxergar a vida sem que o outro seja, necessariamente, o complemento.
A separação, hoje, parece-me, o caminho mais fácil da covardia e da falta de honestidade. Em ambos os sexos. Os apelos são muitos e todos são bonitos perante a lei, assim como o melhor, ou a melhor, dos ou das amantes. Somos, na maioria, pais de filhos de pais separados, que buscam mostrar para os filhos que a relação não deu certo, mas que eles se encontrem e sejam felizes com seus pares. E nós, os que fomos deixados para trás, homens ou mulheres, somos ou seremos felizes, enquanto feridas tantas povoarem nosso imaginário? Honestamente, não tenho a resposta e, se a tivesse, talvez fosse eu o primeiro a ser mais feliz.



AMANDA
Braz

Vem com jeito de menina,
Teu chorar é só neblina,
Inundando os olhos meus,
Crescerás como alvorada,
Como noite enluarada,
Embalando os sonhos meus.

Teu amor, então, comanda
Astros, círios e oceanos.
O universo é o teu plano,
Tua trilha, tua sina
E a vida te ensina
A conquistar os sonhos teus.

Há sorrisos de esperança
Pelas praças, pelas ruas,
Rede armada nas varandas
Flores, chão, estrelas, ceu
E a vida é só Amanda.

Esse poema eu compus para Amanda, filha do meu querido amigo Edvânio Nobre ( O Zé de Louro), por ocasião de seu nascimento, mas só agora encontrei nas minhas desordenadas anotações.


18 de ago. de 2011

Mara

Como negar ao meu coração esse carinho
 a esse amor que é tão amigo
que divido aqui contigo
nesses versos que componho,
que suponho sejam chão, sejam caminho.

Como negar essa paz
 que transmitem os olhos teus,
que não choram com adeus,
não se quedam ante amarguras.

Como fico sem cantar
Lindas loas de amizade
Pra dizer que, na verdade,
Poemas são para brindar
Quem nasceu na poesia
Quem pra mim é flor do dia,
Quem pra mim é liberdade.

Digo, enfim, sem um lamento
Amizade não é momento
É infinito que conduz
Quem a tem, quem a possui,
Para uma estrada que só flui
Somente pra quem tem luz.

Bjs.... feliz aniversário!!!!
Mandei agora porque você estava muito mal criada no seu dia, viu? Bichinha!!!

13 de ago. de 2011

LETÍCIA

Nos teus olhos um aquário
É maior que o oceano
Ondas são uma menina
São silêncio de crianças
No teu rosto um riso franco
Faz a gente se embalar.

Num sonho tão verdadeiro
Dá vontade de brincar
Quando te vejo correndo
Numa estrada que suponho
Vejo em ti a liberdade,
A canção que eu componho
Seja a canção do vento
Seja o sopro azul da paz.

A candura da criança
Num oceano de ternura
Que uma onda não desfaz.

9 de ago. de 2011

DIA DOS PAIS

UM OLHAR DE TERNURA
Cicero Braz de Almeida

Te ensinaram que a vida é tão dura,
Que ser forte é realização,
E esconderam a tua ternura
No oásis do teu coração.

Te ensinaram a acordar  cedinho.
Lá, no berço, eu queria  carinho.
Esqueceram que a tua verdade
É chão, fazendo nosso caminho.
Esqueceram, pai,
Que parto não é só de montanha;
Que amar é sublime
Que na vida é o amor que ganha.

Se um dia eu ficar bem tristonho
E sentir os meus olhos sem brilho,
Lembrarei que, também, tenho filhos,
Que sou pai, que também tenho sonhos
De mostrar minha realização.

Vou lembrar que somos iguais:
Pai e filho, homem e trabalhador
Lembrarei que um porto seguro
Não precisa de um homem tão duro
Basta, apenas, um olhar bem maduro,
Basta, apenas, um gesto de amor.


22 de jul. de 2011

A MORTE DE MEU PAI”
Assim, entre aspas, começo a meditar sobre o texto de um amigo, dileto amigo e escritor: Álder. É como lhe chamo e como a ele me dirijo, em palestras boas ou quando jogamos conversa fora. Assim, como lhes escrevo e como vejo o universo desse meu caro amigo (como disse um dia Chico Buarque), mas não naquela realidade política tão bem retratada por ele. Não. O assunto é bem outro. E como é.
Escreve-nos, o articulador, sobre uma passagem triste em sua vida: a morte de seu pai.
Em seu trajeto, entre Fortaleza e Iguatu, toda a sua infância lhe veio como um filme, em preto e branco, do que fora a experiência de ter um pai. Cabiam-lhe, na bagagem de filho, alforjes tantos de saber e de ternura que aqueles minutos, em um avião, não lhe diriam jamais. Uma viagem, remetida a outra viagem mais profunda, mais verdadeira. Uma viagem num trem de um interior.
Lendo essa crônica, lembrei-me de outra do Manoel Bandeira, onde ele descrevia o medo de morrer longe do seu pai, posto que faria uma viagem à Suíça para submeter-se a um tratamento contra sua tuberculose, e não querendo que fosse longe do seu pai e tendo o Oceano Atlântico como obstáculo a distanciá-los. Quem morreu foi o seu pai, segurando sua mão, não tendo, sequer, um parede a separá-los.
A angustia do Álder, por não entender o porquê de uma partida tão prematura, aliada a um não sei quê de que porque eu não estava lá, faz-nos repensar o que é ser um pai. O que é ser pai dentro de um contexto onde temos que ser provedores machos e leoas de nossos filhos. Independe o sexo da criação quando o assunto é amar e ser amado. Ensinar aos nossos filhos o que é amor e o que é amar, sem distinção. Ser pai é ser leão e leoa. É ser fera e ser manso.
Pais, quem os teve, ou quem os tem, não são a última pá de terra que se joga em sua vida quando ela não existe mais; pais, quem os teve, ou quem os tem, não são o último grito de aflição quando está se afogando e nem o primeiro espinho que se tira do pé infante.
Álder, entre aspas iniciei meu sublime comentário, não pela dor acolchoada que suas palavras cobriram nosso manto de ternura e de admiração por todos os pais, ao contrário, porque não pude derramar uma palavra pelo pai, que acho que não tive, e tampouco uma lágrima para deitar-lhe sobre o ombro naquela viagem para o Iguatu.

5 de jul. de 2011

A FELICIDADE MAIOR DE UM PAI


Acredito que não existe nada no mundo, nesse mundo tão complicado de se viver, tão injusto e tão cheio de agruras e desigualdades, mais importante do que perceber o brilho de vitória estampado nos olhos de um filho. E de uma filha.
Acredito que não existe ninguém no mundo, nesse mundo tão cheio de incertezas, de ódios e rancores vãos; nesse mundo no qual não cremos vivê-lo, consubstanciá-lo, trazê-lo para perto de nós como se fosse um rebento nosso, alguém que seja mais feliz do que eu.
É claro, falo sobre minha filha Mariana, para mim nascida Mariana Barbosa Nobre de Almeida, assim, sem tirar nem por, sem desmerecer quaisquer sobrenomes, nem evidenciar algum em detrimento de outro, ou porque soa melhor aos ouvidos um, ou porque um outro remete a tergiversações denotativas que possam transparecer algo além do que se está grafado e do que, verdadeiramente, representa. Simplesmente, minha filha se chama Mariana Barbosa Nobre de Almeida, como convém a uma princesa que tem uma mãe e, também, um pai.
A felicidade maior de um pai é estar acima de todas as adversidades e saber que, em alguns momentos, o melhor é renunciar a muitas coisas em nome de um bem maior. A felicidade maior de um pai é relembrar de um dia, quando sua filha estava infeliz em um colégio (ela era pequenininha, mas já se impunha) e acatou seu pedido, transferindo-a para outro e, assim, vê-la desenvolver-se feliz, sendo esse anjo de candura, por mim descrito em crônica alhures.
A felicidade maior de um pai é estar feliz com seus filhos, acompanhando-os, mesmo que distante, e vibrando com suas conquistas. Suas conquistas.
Tenho meu coração em festa e me declaro festivo e festivamente escrevo sobre as festividades que meu velho coração de pai festeja. Sei que é época junina e do meu peito saem balões iluminados por lumes de felicidade. Minha voz acorda a alvorada, soltando rojões de rejúbilo e não tênues são os rasgos de aurora que inundam um amanhecer em paz.
A minha felicidade maior, hoje, é compartilhada comigo mesmo, num brinde solitário, marginalizado e distante das homenagens feitas, e merecidas, para aquela que, para mim, é a mais linda acadêmica de medicina de que se tem notícia.
Tenho convicção de que fiz o que pude dentro dos meus limites. Tenho no ouvido, ainda, sua voz, linda, pedindo-me para orientá-la sobre redação, um item valorizado num exame vestibular. Lembro que desenvolvemos, a quatro mãos, um tema aleatório, somente para testar a parte ortográfica e os aspectos formais de uma narrativa, que é o seu forte, e eu fui dormir tranquilo, sabendo que minha “pipoquinha” faria uma excelente prova. E fez.
A felicidade maior minha, como pai, é dar-lhe os parabéns, minha filha, porque você é uma vitoriosa desde pequenina. Nas minhas mãos, para sempre, estará marcado, com os ferros da felicidade, o símbolo de sua vida: UM M. De Mariana e de Médica.
Sei, minha filha, que o futuro lhe reserva as maiores venturas. Estarei sempre atento ao que se passa ao seu redor, mesmo que distante e mesmo que, solitariamente, brinde ao seu sucesso e sua felicidade, que é tudo que eu quero nessa vida.
Parabéns, Mariana Barbosa Nobre de Almeida, pela felicidade que você me dá por ser o seu pai.

25 de abr. de 2011

Janelas Marinha

Imagem/Internet
Posso partir
Sem mais olhar pra trás
Sem medo de me perder
De me sentir incapaz
De olhar de novo a vida
Com mais prazer, sem despedida.

Vi que o amor
Viaja com as marés
E quando volta traz
Prazeres e seduções
Que dão ao corpo e à alma
Todo o sentido das paixões.

Parti quando senti
Que minha alma despertou
Olhou outras janelas
e descobriu outros caminhos;
cansou  de ser sozinha
e noutro cais se atracou
e disse: nunca mais
e disse que jamais
vai  conviver com a solidão.
Rio/2003

17 de abr. de 2011

ALUMBRAMENTOS NOTURNOS

 Imagem/Internet


Quem me dera hoje amar-te,
Longe, bem longe
Lá no frio da serra
Que o manto da noite encerra...
Recorrem-me lumes inquietos,
Formigando em meu corpo...
Longe, lá longe no frio da  serra
Tua alma treme de frio
E eu do prazer que ainda não tive.
Longe, lá longe.
Quem me dera sonhar-te
Quem me dera tu aqui bem perto...
Perto, pertinho do carinho de meus braços,
Do calor que tem meus braços.
Mas, longe, tão longe  estais
Que não vejo em que estrada
em que terra seca, deserdada,
escondeste a magia dos teus passos