AMOR: ASSIM COMO NASCE À PRIMEIRA VISTA, DEVERIA MORRER À ÚLTIMA VISTA.
Dia desses, com tristeza, recebi a notícia da separação de uma amiga minha. Com tristeza, digo, porque o separar-se é algo que envolve sentimentos quebrados, rotinas dantes não avaliadas, que muitas vezes ficam acumuladas no inconsciente, mas, quando afloradas, são piores do que uma guerra atômica em seu zênite.
Caminhei alguns minutos em volta de mim mesmo, como quem mergulha em si mesmo, dentro de suas experiências de, também, separado e calculei o momento em que iria falar com minha amiga sobre o que houvera acontecido.
De chofre, vi, em derredor, as paixões inebriantes que sufocam os enamorados com suas juras eternas de amor, de fidelidade, de amar-se e de ser-se uma para o outro a vida inteira, como se a vida fosse o jardim desenhado, florido e apascentado por balir de ovelhas, mugires de vacas e folhas caídas de árvores primaveris, anunciando um novo alvorecer, um novo florescer de paz, de amor inconteste, sem máculas e sem problemas. Esse é o mais lindo e sacro recôndito dos amantes. Deveria, portanto, transcender-se.
Infelizmente, a vida não é azul e nem composta somente de ceu de brigadeiro. A vida é um conturbar-se perene de dificuldades e desafios, onde aqueles que a ousam atravessar deveriam levar em conta o companheirismo de quem se lhes sustenta o cantil necessário à jornada e reparte o pão que lhes fará seguir adiante. O darem-se as mãos é o mais singelo ato de amor quando se avistam tempestades.
Em todos os cantos e poemas, romances e conversas no divã, busca-se o tal equilíbrio sentimental. Nós somos a síntese diáfana do amor e do ódio. Somos aríetes da emoção e do imediatismo da paixão. Seres apaixonados não olham a realidade. São tão fortes em si mesmos que o conselho do cuidado soa-lhes obstáculos que não podem ser considerados.
O amor, assim como nasce entre duas pessoas, deveria morrer da mesma forma. Os sentimentos ante a perda, quiçá, irreparável por parte do homem, que haverá de se sentir o último da espécie em imaginar sua amada em outros braços, buscando um novo amor, dantes lhe jurado, ou da mulher que se vê abandonada, como se fosse vindita por algo que lhe fugira à compreensão, são exatamente iguais: o fracasso.
Restou-me dizer, à minha amiga, essas palavras e unir-me a ela em seu sofrimento. Sofrimento de quem já passou por isso e escapou quase ileso. Sofrimento de quem pensa no ser humano como o ser que é humano e que tem suas verdades, seus momento, seus mistérios, suas glórias e decepções. Sofrimentos que alimentam a necessidade de se recompor e enxergar a vida sem que o outro seja, necessariamente, o complemento.
A separação, hoje, parece-me, o caminho mais fácil da covardia e da falta de honestidade. Em ambos os sexos. Os apelos são muitos e todos são bonitos perante a lei, assim como o melhor, ou a melhor, dos ou das amantes. Somos, na maioria, pais de filhos de pais separados, que buscam mostrar para os filhos que a relação não deu certo, mas que eles se encontrem e sejam felizes com seus pares. E nós, os que fomos deixados para trás, homens ou mulheres, somos ou seremos felizes, enquanto feridas tantas povoarem nosso imaginário? Honestamente, não tenho a resposta e, se a tivesse, talvez fosse eu o primeiro a ser mais feliz.