25 de abr. de 2011

Janelas Marinha

Imagem/Internet
Posso partir
Sem mais olhar pra trás
Sem medo de me perder
De me sentir incapaz
De olhar de novo a vida
Com mais prazer, sem despedida.

Vi que o amor
Viaja com as marés
E quando volta traz
Prazeres e seduções
Que dão ao corpo e à alma
Todo o sentido das paixões.

Parti quando senti
Que minha alma despertou
Olhou outras janelas
e descobriu outros caminhos;
cansou  de ser sozinha
e noutro cais se atracou
e disse: nunca mais
e disse que jamais
vai  conviver com a solidão.
Rio/2003

17 de abr. de 2011

ALUMBRAMENTOS NOTURNOS

 Imagem/Internet


Quem me dera hoje amar-te,
Longe, bem longe
Lá no frio da serra
Que o manto da noite encerra...
Recorrem-me lumes inquietos,
Formigando em meu corpo...
Longe, lá longe no frio da  serra
Tua alma treme de frio
E eu do prazer que ainda não tive.
Longe, lá longe.
Quem me dera sonhar-te
Quem me dera tu aqui bem perto...
Perto, pertinho do carinho de meus braços,
Do calor que tem meus braços.
Mas, longe, tão longe  estais
Que não vejo em que estrada
em que terra seca, deserdada,
escondeste a magia dos teus passos

15 de abr. de 2011

Mimetismo no Amor


 

Tenho que confessar: absolutamente sou um homem romântico. Talvez não como dissesse o eterno “Rei da Juventude”, Roberto Carlos“( do tipo que ainda manda flores), por não querer misturar amor com comércio, mas um romântico empedernido, que inda crê no amor, aqui parafraseando Silvio César.
O amor está presente em tudo, e falo do amor entre as pessoas, o amor conjugal, das almas que se acreditam unidas para sempre. Esse amor é o motivo maior da existência das pessoas, seus passos de felicidade e, também, de desventuras. Entendê-lo torna-se fácil, basta-nos estar atentos às suas manifestações.
Tanto nosso cancioneiro, como nossa literatura, trazem-nos fartos exemplos do que escrevo. São incontáveis os encontros e desencontros ali narrados. O amor é tratado sob todas as óticas: o amor que deu certo, o que não; amor que doi, amor que maltrata,  amor que mata; amor que realiza, que destroi, que se complementa, que se afasta. Amor, sempre o amor, palavra abstrata que concretiza os mais diferentes anseios.
Dia desses, relendo alguns de nossos escritores, parei para contrapor duas ideias em dois poemas distintos: À Carolina, de Machado de Assis e A Arte de Amar, de Manoel Bandeira. Naquele, a mais linda declaração de amor, de um Machado de Assis, no auge do Realismo, à sua amada que se vai para sempre. Nesse, toda a frieza do Bandeira, onde ele trata o amor de forma puramente física, carnal, onde diz que os “corpos se entendem, as almas não”. Aqui, Bandeira afirma que a alma estraga o amor, enquanto Machado “o faz apetecido, a despeito da humana lida”.
Além dos escritos em poemas e canções, expressões populares definem o amor com sua real singeleza. “Um deles,” quando duas pessoas se amam e tornam sua união perene, até seus rostos ficam parecidos, como se irmãs gêmeas fossem”, tocou-me, sobremaneira, noite dessas, no Docentes e Decentes, restaurante de que sou frequentador contumaz
Com permissão do uso dos nomes, Paulo e Mara são um casal por que nutro um amor fraternal. Daquelas pessoas que estão do nosso lado em todos os momentos, independente da hora e lugar. Eles são a representação maior daquele amor que contraria o Bandeira. Neles, as almas e os corpos não só se entendem, como são idênticos. Quando os vi, ali na minha frente, numa conversa sobre poesia, crônicas e música, a mim me pareceu ver dois rostos fundidos num só, duas expressões faciais únicas e dois sorrisos gêmeos. De imediato, lembrei-me dos poemas e disse: “Mara, você é a cara do Paulinho!”  “amiga, vocês estão desmentindo o Manoel Bandeira, mostrando que a Arte de Amar não é a que só Deus entende, e que o amor estraga as almas”.  Ocorreu-me escrever sobre essa sensação.
Falei para Mara como é difícil os casais permanecerem unidos, hoje em dia. O dia a dia é o exercício mais paciente de se preservar o amor, tantos são os problemas que são colocados e, neles, posta em prova a durabilidade do amor. Muitos tombaram no caminho, por motivos diversos, provando que o Bandeira é mais presente do que nunca. Com Paulo e Mara a história é diferente. As dificuldades tomaram-lhes mais unidos. O brilho de seus olhos prova que a felicidade dos dois é transcendental. O dia a dia é mis do que um exercício rotineiro e passa a ser a complementação prazerosa dos corpos e a completa conjunção das almas. As divergências, que são muitas, são feedbacks da relação, fortalecida a cada discussão, cada briga. Quem nunca brigou, nunca amou. Se numa relação as duas pessoas concordam em tudo, a relação é morta.
Como disse alhures, sou um romântico assumido e admiro relações que perduram. A felicidade me bateu àquela noite, deixando-me pensar em minha vida. Pensar que também acreditei num amor perene, mas que sucumbiu ao longo da estrada, onde, em mim, Bandeira foi mais marcante do que Machado de Assis. Em Paulo e Mara nada é esmaecido, ao contrário, os laços de felicidade que os uniram não são lassos; eles são a encarnação do “amor maior”, buscado por uma dessas bandas pop nacionais e, também, por nós todos, ou não?
Em silêncio, pedi a Paulo e Mara que me permitissem sonhar com a felicidade que  senti naquela aura noturna, trazendo para os meus olhos o lume do seu olhar, derramando-se sobre a minha vida a alegria de viver que vive em suas vidas, enfim, deixando-me  acreditar que o amor, que cultivei em toda minha existência, não foi algo que estragou a alma, que só serviu aos corpos, antes,  que se permita latente e pronto para brotar em um solo mais fértil.

8 de abr. de 2011

DE NOVO A VIOLÊNCIA, DE NOVO DEUS É LEMBRADO


 Imagem/Internet

Semana passada, escrevi um simples comentário a cerca de uma frase cunhada por um pai que acabara de perder duas filhas nas mãos de um facínora, em São Paulo.
Na ocasião, revoltado com a aceitação tácita de tão brutal acontecimento, onde o pai invocara o nome de deus para perdoar o crime, externei o meu pensamento sobre a impunidade dos homens, acobertada pelo beneplácito divino, e citei alguns exemplos pinçados do livro máximo dos católicos, a bíblia sagrada, seu guia, além de outros fatos históricos, comprovados, narrando mortes de seres humanos, ou para expandir a igreja católica ou porque as vitimas professavam outra fé, adorando outros deuses, que não o criador divino, adorado pelos católicos.
Sabia, diante mão, das críticas que viriam, posto haver tabus seculares quando o assunto é deus, dono da vida e detentor do poder da morte e do perdão de todos os males que se cometam em seu nome, desde que  se cumpram suas obrigações para com as igrejas que o representam, ou seja, pagando os dízimos, os óbolos, alimentando seus pastores, mantendo abastecida a casa de deus, comprando indulgências para lograrem um lugar nos céus, sentados à direita de deus pai e obterem, dessa forma, a tão sonhada vida eterna, com todos seus pecados expiados, não interessando se mataram, estupraram, saquearam, seqüestraram, tripudiaram dos inimigos, enfim, cometeram toda sorte de barbaridades, desde que se arrependessem, na última hora, dos crimes e tendo a consciência de que compraram o seu perdão, assim serão perdoados.
Pois muito bem, vieram-me as criticas através de e-mails, telefonemas e conversas informais com os amigos. Umas em concordância com meu raciocínio, outras contra. Acho isso um salutar exercício do arbítrio e defesa de princípios, afinal, como dissera um grande escritor, toda unanimidade é burra.
De todos os que me abordaram, duas opiniões distintas, de dois grandes amigos, escritores de boa lavra, chamaram-me a atenção: um, no alto de sua experiência forense, acostumado com as seqüelas da violência em nossa urbe, acudiu-me o raciocínio, comentando sobre o mal que as exacerbações religiosas provocam na sociedade, onde o homem joga para um certo deus, que nunca teve a sua existência comprovada, a explicação de todos os flagelos humanos. Essa foi a sua visão sobre o que escrevi, no que me parecera correto na nossa conversa. Um outro, como disse, de escol similar, criticou-me de forma veemente, aduzindo que eu fomentara a violência em meu texto, justo eu, na conta  do meu querido amigo, um poeta sensível e que não poderia escrever um artigo pondo em dúvida a existência de deus e, o mais terrível, fazendo apologia da violência. Debalde, tentei mostrar-lhe que minha linha de raciocínio era diversa. Enfim, aceitei a crítica e dei-lha o devido respeito.
Essa semana, novamente, os noticiários deram lugar a mais fatos de violência, com fortíssimo viés de elementos religiosos e que, infelizmente, vieram a corroborar com aquilo que houvera escrito semana passada..
Aqui em Fortaleza, num bairro de classe média, vários carros estavam estacionados no canteiro central da avenida Desembargador Gonzaga, em frente a uma igreja muito conhecida. Ao ser comunicada do fato irregular, quanto ao estacionar-se  em local proibido, uma viatura da AMC para lá se dirigiu, passando a multar os veículos ali parados, enquanto seus fiéis proprietários assistiam ao seu culto semanal. Ao saberem do evento, os devotos de deus, que em sua casa estavam lhe rendendo graças e pedindo mais para mais poderem pagar, ouvindo a palavra de deus, que deveria ser de paz, esperança, amor ao próximo e outras citações do tipo, para lá acorreram e, embriagados pela palavra do senhor, depredaram os carros da autarquia municipal, agrediram seus agentes, proferindo o que, para eles, seriam blasfêmias, dado o baixo calão das palavras proferidas. Com certeza, após registrada a ocorrência, foram para seus santos lares perdoados por deus, uma vez que estavam reunidos em seus nome e nas imediações de uma de suas casas ( são tantas as moradas do senhor), em seu nome rezavam ou oravam ( as idiotices religiosas fazem distinção do uso desses verbos) e, por isso mesmo, perdoados e prontos para lhe renderem louvores nas semanas seguintes. O que diriam, os carolas de plantão, se o fato houvesse ocorrido nas imediações de uma bar e os agressores fossem alguns bêbados? Com certeza, estariam queimando no sagrado fogo do inferno pelo crime cometido.
 No Rio de Janeiro, outro facínora atira e mata 12 crianças e ferindo tantas outras, dentro de uma escola, deixando uma carta onde o que se lê são palavras com pedidos de perdão a deus, jesus cristo e outras sandices, que não vou enumerar, já que a carta está mais do que divulgada na mídia mundial.
Não preciso falar mais nada em minha defesa de que não fomentei a violência, de que sou contra, apenas tenho o direito de me insurgir contra ela e de atacá-la com a mesma virulência. Jamais serei ferido e darei a deus o prazer frio da vingança, tampouco a outra face. Se a mim se chagarem com paz, alegria, ternura e humanidade, em mim terão o poeta romântico, questionador de outros assuntos. Não serei cúmplice da omissão por princípios religiosos, que nunca tive, a não ser quando meus pais me empurraram, goela abaixo, a seita católica.
Com muito respeito a meus amigos,os que só enxergaram nas minhas palavras um apelo gratuito à violência, a eles me reporto para que me expliquem o porquê desses crimes para o perdão de deus e outros tantos que diuturnamente povoam as páginas policiais do país e, em sua análise, convençam-me de que eu sou o fomentador dessa violência; se minhas palavras provocaram tamanhas atrocidades.. Se tenho eu esse pendor e essa divina força, com todo o respeito que tenho a meus diletos amigos, serei um fortíssimo candidato a me tornar mais uma pessoa da santíssima trindade.

1 de abr. de 2011

A FÉ DIVINA E A IMPUNIDADE HUMANA
Hoje cedo, assisti a um telejornal, contando sobre o crime hediondo cometido em Cunha/SP por um presidiário, em gozo do indulto de semana santa desde 2009, contra duas adolescentes. A notícia, de per si, não me causaria espécie, pois não é novidade que a violência grassa no país, recrudescendo a cada dia, sem que nada seja feito para exterminá-la,por causa de um poder judiciário atrelado ao poder econômico, reconhecidamente servil, aliado a um Estado cúmplice de bandidos, onde só pobres e raças, para eles, inferiores, são apenadas. O que me causou revolta imensa, essa revolta que me é latente de há muito, foi a declaração do indigitado pai, dada em função de um manifesto contra o crime: “ o que me traz aqui é a fé que tenho no Senhor e saber que Deus perdoa”. Ora, isso para mim foi a gota d’água para uma explosão de revolta ao me  sentir impotente na luta contra a criminalidade, pois ela encontra amparo e perdão divinos.
Divaguei bastante sobre o que ouvi, estarrecido. De uma lado, um pai sofrido diz que deus haverá de perdoar o facínora, levando uma turba de praticantes a se conformar com a crueldade com que as meninas foram executadas por esse monstro e, de outro, um arremedo de justiça, prometendo prender o assassino mas, como sabemos, um advogado, com sua OAB em dia, facilmente convencerá um juiz qualquer de que as meninas seduziram o bandido e elas queimarão no fogo do inferno para expiar sua pena e o criminoso terá o perdão divino( a justiça divina é superior à humana)  e seguirá vestido de anjo da morte de deus, como está na bíblia, matando outras meninas,( como mataram os primogênitos do faraó que não atendia os caprichos de deus )que lhe tentarem provocar a libido, um pecado sem perdão divino.
Se deixarmos para outro plano o crime, isto é, saindo da visão católica, onde deus perdoa os bandidos, culpando os inocentes, vemos a filosofia espírita, ensinando que essas jovens foram mortas por esse monstro porque em vidas pretéritas elas teriam cometido  um crime contra ele e que vieram, nessa nova encarnação, pagar seu erro e, também por essa abordagem, o bandido estaria perdoado, não podendo ser molestado para não perder sua evolução espiritual.
Não seria cômico se não fosse trágico esse raciocínio idiota. Ora, em nome de um deus que promoveu o primeiro exemplo de impunidade de que se tem notícia, pois Caim matou Abel, com arma conhecida, em local conhecido, em flagrante, pois que testemunhado por deus e seus pais, e saiu livre da silva do paraíso, porque deus perdoou; se tantos lugarejos foram dizimados nas cruzadas, para expansão econômica da igreja e aumento do seu séqüito de simpatizantes, pagadores do dízimo e seus executores foram igualmente perdoados por deus, mesmo porque apenas seguiam suas ordens; se tantos índios foram obrigados a deixar de adorar os seus deuses para adorarem a um somente, o maior e melhor de todos e, em nome desse deus, foram idiotizados, perdendo sua cultura e raízes, mas foram perdoados por deus, então, a fé em deus é a maior prova de impunidade de que se tem notícia.
Perante deus, comer bem é pecado (gula), ser rico é pecado, todo prazer é luxúria. Mas, por que só para os infelizes fiéis? A lógica é perfeita: povo pobre, aculturado, doente, sem perspectiva de vida, é povo crente, é povo que reza, que faz romaria, que lota templos e deixa seus minguados ganhos para gáudio da santa sé e de outros templos de seitas iguais. Rico é rico porque não é besta. Ele reza para seu patrimônio aumentar, prometendo umas esmolas e fazendo pagamento com cheque cruzado em preto nominal adeus. O rico é sócio de deus, amante incondicional da luxúria, da boa vida e da troca de favores para lotear o céu e distribuí-lo para seus apaninguados.
Acho que é hora de se dar um basta e evocar de vez o satanás para igualar essa luta. Se alguém mata e deus perdoa, vem o satanás e aquele executa sem medo de ser punido, pois até o satanás deverá ser perdoado. Vamos deixar de orar, gente, matemos quem rouba, mata, estupra, seqüestra, apropria-se do patrimônio público. Vamos pregar a violência contra a violência, não tenhamos comiseração dessas pobres almas de deus, elas só prestam para ele e que lhe sejam devolvidas para seu bom proveito. Evoé satanás. Não precisa mais rezar, pois o céu já está completo com os eleitos de deus, os seus asseclas papas, cardeais, bispos e essa gentalha toda. Não existe pecado em lugar nenhum. Não aceitem que lhes matem os filhos, vilipendiem suas esposas, dilapidem seu patrimônio, erigido com muita trabalho ( os que assim o foram), esperando que deus irá perdoar.
Uma coisa eu reconheço na inteligência divina: no sexto dia criou o homem a sua imagem e semelhança para no sétimo dia descansar. Claro, com tantos idiotas trabalhando eternamente para lhe suster as necessidades, atendendo-lhe todos os caprichos, o sétimo dia foi sua maior glória. Ora, existe coisa melhor: pecar a vida toda, pagar o dízimo, ser perdoado e ainda ter lugar cativo ao lado direito do Homem? Só uma coisa não entendo: onde andava Sílvio Santos que não pensou nisso antes?