26 de nov. de 2012


PIRROL COM ROSTO DE GALO

Faz tempo, muito tempo talvez. Sentei-me, hoje à tardinha, num dos bancos da praça Almirante Alexandrino, dita padre Cícero. Sem pressa, abanando-me com as mãos, ante a lufada do vento quente que assola o meu Juazeiro, nessas tardes de verão. O sol mostrava sua abóboda vermelho-laranja, fulgindo num horizonte de céu, sem esperanças de nuvens.

O sol, nosso Astro-Rei vai nascer em outras plagas. Vai aquecer regiões frígidas, dar-lhes vidas, dar-lhes energias. Esse é o nosso ciclo: o sol é o adormecer da lua.

Nesse banco de praça, dormitando, ouço um pedido que me remete à minha infância: “moço, dá-me um pirrol com rosto de galo, por favor, é Natal.”

Essa é a senha de minha fantasia.

À sorrelfa, lembro-me de tantos natais pelo mundo afora. Ícones vermelhos, barbas brancas, presentes, ceias... ceias... sem algodão doce. Um dar-se em conta de felicitações e tantos desejos de felicidades. Lindo!

Olho para dentro de mim e compro uma passagem de trem: um trem para o interior. Sigo, beirando trilhos de completa abstração, uma nova estrada, um novo percurso. Correm, sobre os trilhos, pedaços de mim de todas as cores: de esperança, de paz de harmonia, de Amor. Sei lá, não sei, se alguém recolheu esses pedaços, se sobraram nos meus braços os abraços que tentei simbolizar... sei lá, meu Deus, sei lá.

Correm, sobre minha face, tantos sois desfeitos em lágrimas, tantos sonhos amendoados em potes de souvenires... correm, ladeira abaixo, lácteas vias de adoração da natureza, que ergue manjedouras de peregrinação pelo presépio íntimo do ser humano. Balem sinos de esperança e de tranquilidade e, vivaces, estremecem em minha voz o despertar de um novo tempo. Um tempo de paz.

O sol fulge e foge no horizonte, dentro de minha tácita observação. É o sol do meu Cariri, o sol do meu Juazeiro. Meu Juazeiro... em suas ruas fui Durango Kid, fui mártir e herói, fui Nena doido e Príncipe Ribamar.... Fui professor Macário e Luiz, fui José Bezerra, Luís Fidélis fui Gil Granjeiro, fui Salesiano e hoje sou aprendiz... fui meu primeiro amor.

Só, no meu banco, que outrora tinha o escudo do Vasco, olho meu horizonte, olho para o sol do meu Juazeiro, olho o sol do meu passado e saio do meu trem interior. O sol, que hoje brilha, representa o olhar de cada juazeirense, como se fossem bolas verdes e vermelhas das árvores de Natal. Extasiantes, confundem-se com os nossos laços de conterrâneos, sobem a colina e retornam aos nossos corações, prenhes de venturas. Esse é o meu Natal do Cariri, o nosso Cariri, valente e que não esquece um só filho seu.

Lágrimas correm por toda minha alma e o pirrol, com rosto de galo, eu não pude encontrar para ofertar a essa criança, tão simples, tão pura e, quem sabe, fugiu de sua manjedoura para, no Cariri, querer como presente de Natal um PIRROL, COM ROSTO DE CRISTO.

Feliz Natal, aos meus conterrâneos.

Cicero Braz de Almeida

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