PIRROL COM ROSTO DE GALO
Faz
tempo, muito tempo talvez. Sentei-me, hoje à tardinha, num dos bancos da praça Almirante
Alexandrino, dita padre Cícero. Sem pressa, abanando-me com as mãos, ante a
lufada do vento quente que assola o meu Juazeiro, nessas tardes de verão. O sol
mostrava sua abóboda vermelho-laranja, fulgindo num horizonte de céu, sem
esperanças de nuvens.
O
sol, nosso Astro-Rei vai nascer em outras plagas. Vai aquecer regiões frígidas,
dar-lhes vidas, dar-lhes energias. Esse é o nosso ciclo: o sol é o adormecer da
lua.
Nesse
banco de praça, dormitando, ouço um pedido que me remete à minha infância:
“moço, dá-me um pirrol com rosto de galo, por favor, é Natal.”
Essa
é a senha de minha fantasia.
À
sorrelfa, lembro-me de tantos natais pelo mundo afora. Ícones vermelhos, barbas
brancas, presentes, ceias... ceias... sem algodão doce. Um dar-se em conta de
felicitações e tantos desejos de felicidades. Lindo!
Olho
para dentro de mim e compro uma passagem de trem: um trem para o interior.
Sigo, beirando trilhos de completa abstração, uma nova estrada, um novo
percurso. Correm, sobre os trilhos, pedaços de mim de todas as cores: de
esperança, de paz de harmonia, de Amor. Sei lá, não sei, se alguém recolheu
esses pedaços, se sobraram nos meus braços os abraços que tentei simbolizar...
sei lá, meu Deus, sei lá.
Correm,
sobre minha face, tantos sois desfeitos em lágrimas, tantos sonhos amendoados
em potes de souvenires... correm, ladeira abaixo, lácteas vias de adoração da
natureza, que ergue manjedouras de peregrinação pelo presépio íntimo do ser
humano. Balem sinos de esperança e de tranquilidade e, vivaces, estremecem em
minha voz o despertar de um novo tempo. Um tempo de paz.
O
sol fulge e foge no horizonte, dentro de minha tácita observação. É o sol do
meu Cariri, o sol do meu Juazeiro. Meu Juazeiro... em suas ruas fui Durango
Kid, fui mártir e herói, fui Nena doido e Príncipe Ribamar.... Fui professor
Macário e Luiz, fui José Bezerra, Luís Fidélis fui Gil Granjeiro, fui Salesiano
e hoje sou aprendiz... fui meu primeiro amor.
Só,
no meu banco, que outrora tinha o escudo do Vasco, olho meu horizonte, olho
para o sol do meu Juazeiro, olho o sol do meu passado e saio do meu trem
interior. O sol, que hoje brilha, representa o olhar de cada juazeirense, como
se fossem bolas verdes e vermelhas das árvores de Natal. Extasiantes,
confundem-se com os nossos laços de conterrâneos, sobem a colina e retornam aos
nossos corações, prenhes de venturas. Esse é o meu Natal do Cariri, o nosso
Cariri, valente e que não esquece um só filho seu.
Lágrimas
correm por toda minha alma e o pirrol, com rosto de galo, eu não pude encontrar
para ofertar a essa criança, tão simples, tão pura e, quem sabe, fugiu de sua
manjedoura para, no Cariri, querer como presente de Natal um PIRROL, COM ROSTO
DE CRISTO.
Feliz
Natal, aos meus conterrâneos.
Cicero
Braz de Almeida