25 de mai. de 2012


UM CAMINHAR DO MENINO PARA O ADULTO

Na realidade, gostaria de titular esse texto como O Caminhar Entre a Peraltice e a Adultice. Mas, de imediato, o professor Word tinge de vermelho esse vocábulo, que não existe. Claro, isso não está dicionarizado. Ora bolas, mas eu quero me expressar assim, afinal falo sobre meu amigo Marquinho. Amigo de longas datas. Peralta ontem, adulto hoje.


Há alguns anos, o casal Luísa e Paulo recebeu mais uma cria. O dia da semana talvez não importe agora. Era um sete de janeiro de 1984 e esse rebento arrebentou no Cura D’ars, um hospital aqui de Fortaleza.
Meu contato com o Marquinho, nascido Marcos Venícius Silveira dar-se-ia anos depois, início do governo Sarney.
Aquele menino me chamava  atenção por sua argúcia e pelo seu jeito irrequieto, de quem queria descobrir o mundo com o toque de suas mãos ou com os passos de sua perna. De tudo dava conta. Impossível alcançar seu tirocínio e sua rapidez em buscar aquilo que o seu mundo particular queria para si.
De cedo, já aprendera a andar de bicicleta e desafiava os pedestres na Marechal Rondon, onde morava, com incursões perigosas em seu Skate. Desafiava os perigos que se lhe apresentavam, de peito aberto.
Confesso, a forma como o Marquinho encarava a vida, dava-me, no bom sentido, inveja.
Faço, agora, um arco no tempo e me permito voltar àquele passado.
Os pais viviam uma situação comum a todos aqueles que, sem recursos, brigavam por um lugar ao sol. Pequenos comerciantes que, com muita humildade, enfrentaram as agruras dos tempos difíceis e que sofreram com muitas peraltices do seu menino.
Marquinho sempre foi afoito, diferente do seu irmão, o Paulo Henrique. Quantas e quantas vezes presenciei o Marquinhos adentrar ruas do Trilho, com objetos pequenos e quase sem valor e retornar à casa, com o pescoço grudado ( parecia um rosário de grude), com objetos de maior valor. Vaticinei: eis um grande comerciante, em potencial.
Na sua inquietude, desmontava aparelhos elétricos, só pela curiosidade, para depois montá-los com a destreza de um técnico.
Agora, vou brigar com o denotativo de nossa língua.
O Marquinho, para mim, é uma dessas pessoas que saltaram da peraltice para a “adultice” com a magnitude dos grandes artífices de um lutar melhor. Incorporou, no adulto, a sua criancice quando desistiu de um curso de Direito, mesmo sabendo que muito custou a seus pais mantê-lo na Escolinha da “tia Jack”, depois em colégios mais caros da cidade, para leva-lo àquele estágio. Para ele, o mundo não é essa mesmice e ele não se contenta com o marasmo. Ele quer mais. Ele pode mais. O mundo seu é o mundo seu e sua inquietude pode muda-lo ao seu sabor de criança, ou de adulto. A mim não me importa qual o Marquinho que se me apresenta: se aquele que quebrou dois dentes numa queda de skate ou o que se me apresenta como uma força motriz, capaz de mudar o modo de construir um destino mais centrado.Marquinho, o seu lema é lutar. De cedo, você aprendeu a negociar e a levar adiante esse seu pendor. Dele não se afaste. Há um ser lindo que de você haverá de querer o melhor para você, porque, em assim sendo, será o melhor para ela.Meu irmão, que Deus lhe dê as melhores oportunidades e que você saiba aproveitá-las. Seja num quadriciclo, numa bike, num skate, num carrão, onde quer que você esteja, busque a sua felicidade e, mesmo que volte para casa com o pescoço grudado, não importa, estarão sempre a lhe esperar, de braços abertos, seus pais, sua filha e nós, os seus amigos.Parabéns.

Cicero Braz de AlmeidaPoeta, cronista, ensaísta, cantor e compositor

13 de mai. de 2012


Só espero que, quando eu morrer, só me venham visitar aqueles que me amaram pelo que eu vivi , não porque morri.