25 de jun. de 2013



O UIVO DA LOBA
Minha realidade não é diferente da sua,
Diferentes são as maneiras de encará-la.
 O uivo assustador da loba
É canto de amor ao lobo esperado;

Nem sempre a lua brilha mais que a estrela,
Nem sempre, quando me escondo,
Eu me furto de vê-la,
A vela que se acende pra vida
Nem sempre se apaga na hora da morte.
Quem sabe há potes de ouro
Na ponta do arco-íris,
Ou se reveste esse tesouro
Com outros matizes.

Nem a fome de amor que o ódio bafeja
É referência fugaz do cúmplice audaz,
Que busca saciedade em lábios proibidos,
Restos de libido
Que o mesmo lábio beija.



PUPILAS E HORIZONTES
Quisera eu, muito embora bem distante,
Sorver beijos nos teus lábios,
Que se oferecem ofuscantes,
como o brilho repentino de uma estrela...

Quisera eu, dedilhar acordes vários,
Em violões, ou Estradivários,
Sinfonias musicais, celestiais.
Querendo mais.

Quisera eu, poesias em minha fronte
Versos lindos, extasiantes
Que se  perdem na alvorada...
Para alguma namorada
Que, ali, bem sentada na calçada,
Sonha  sonhos e, bem distante,
Acaricia o horizonte.
Poesia é um sonho que só o poeta realiza, a vida, uma realidade quem sempre se concretiza. (Braz)

26 de nov. de 2012


PIRROL COM ROSTO DE GALO

Faz tempo, muito tempo talvez. Sentei-me, hoje à tardinha, num dos bancos da praça Almirante Alexandrino, dita padre Cícero. Sem pressa, abanando-me com as mãos, ante a lufada do vento quente que assola o meu Juazeiro, nessas tardes de verão. O sol mostrava sua abóboda vermelho-laranja, fulgindo num horizonte de céu, sem esperanças de nuvens.

O sol, nosso Astro-Rei vai nascer em outras plagas. Vai aquecer regiões frígidas, dar-lhes vidas, dar-lhes energias. Esse é o nosso ciclo: o sol é o adormecer da lua.

Nesse banco de praça, dormitando, ouço um pedido que me remete à minha infância: “moço, dá-me um pirrol com rosto de galo, por favor, é Natal.”

Essa é a senha de minha fantasia.

À sorrelfa, lembro-me de tantos natais pelo mundo afora. Ícones vermelhos, barbas brancas, presentes, ceias... ceias... sem algodão doce. Um dar-se em conta de felicitações e tantos desejos de felicidades. Lindo!

Olho para dentro de mim e compro uma passagem de trem: um trem para o interior. Sigo, beirando trilhos de completa abstração, uma nova estrada, um novo percurso. Correm, sobre os trilhos, pedaços de mim de todas as cores: de esperança, de paz de harmonia, de Amor. Sei lá, não sei, se alguém recolheu esses pedaços, se sobraram nos meus braços os abraços que tentei simbolizar... sei lá, meu Deus, sei lá.

Correm, sobre minha face, tantos sois desfeitos em lágrimas, tantos sonhos amendoados em potes de souvenires... correm, ladeira abaixo, lácteas vias de adoração da natureza, que ergue manjedouras de peregrinação pelo presépio íntimo do ser humano. Balem sinos de esperança e de tranquilidade e, vivaces, estremecem em minha voz o despertar de um novo tempo. Um tempo de paz.

O sol fulge e foge no horizonte, dentro de minha tácita observação. É o sol do meu Cariri, o sol do meu Juazeiro. Meu Juazeiro... em suas ruas fui Durango Kid, fui mártir e herói, fui Nena doido e Príncipe Ribamar.... Fui professor Macário e Luiz, fui José Bezerra, Luís Fidélis fui Gil Granjeiro, fui Salesiano e hoje sou aprendiz... fui meu primeiro amor.

Só, no meu banco, que outrora tinha o escudo do Vasco, olho meu horizonte, olho para o sol do meu Juazeiro, olho o sol do meu passado e saio do meu trem interior. O sol, que hoje brilha, representa o olhar de cada juazeirense, como se fossem bolas verdes e vermelhas das árvores de Natal. Extasiantes, confundem-se com os nossos laços de conterrâneos, sobem a colina e retornam aos nossos corações, prenhes de venturas. Esse é o meu Natal do Cariri, o nosso Cariri, valente e que não esquece um só filho seu.

Lágrimas correm por toda minha alma e o pirrol, com rosto de galo, eu não pude encontrar para ofertar a essa criança, tão simples, tão pura e, quem sabe, fugiu de sua manjedoura para, no Cariri, querer como presente de Natal um PIRROL, COM ROSTO DE CRISTO.

Feliz Natal, aos meus conterrâneos.

Cicero Braz de Almeida

25 de mai. de 2012


UM CAMINHAR DO MENINO PARA O ADULTO

Na realidade, gostaria de titular esse texto como O Caminhar Entre a Peraltice e a Adultice. Mas, de imediato, o professor Word tinge de vermelho esse vocábulo, que não existe. Claro, isso não está dicionarizado. Ora bolas, mas eu quero me expressar assim, afinal falo sobre meu amigo Marquinho. Amigo de longas datas. Peralta ontem, adulto hoje.


Há alguns anos, o casal Luísa e Paulo recebeu mais uma cria. O dia da semana talvez não importe agora. Era um sete de janeiro de 1984 e esse rebento arrebentou no Cura D’ars, um hospital aqui de Fortaleza.
Meu contato com o Marquinho, nascido Marcos Venícius Silveira dar-se-ia anos depois, início do governo Sarney.
Aquele menino me chamava  atenção por sua argúcia e pelo seu jeito irrequieto, de quem queria descobrir o mundo com o toque de suas mãos ou com os passos de sua perna. De tudo dava conta. Impossível alcançar seu tirocínio e sua rapidez em buscar aquilo que o seu mundo particular queria para si.
De cedo, já aprendera a andar de bicicleta e desafiava os pedestres na Marechal Rondon, onde morava, com incursões perigosas em seu Skate. Desafiava os perigos que se lhe apresentavam, de peito aberto.
Confesso, a forma como o Marquinho encarava a vida, dava-me, no bom sentido, inveja.
Faço, agora, um arco no tempo e me permito voltar àquele passado.
Os pais viviam uma situação comum a todos aqueles que, sem recursos, brigavam por um lugar ao sol. Pequenos comerciantes que, com muita humildade, enfrentaram as agruras dos tempos difíceis e que sofreram com muitas peraltices do seu menino.
Marquinho sempre foi afoito, diferente do seu irmão, o Paulo Henrique. Quantas e quantas vezes presenciei o Marquinhos adentrar ruas do Trilho, com objetos pequenos e quase sem valor e retornar à casa, com o pescoço grudado ( parecia um rosário de grude), com objetos de maior valor. Vaticinei: eis um grande comerciante, em potencial.
Na sua inquietude, desmontava aparelhos elétricos, só pela curiosidade, para depois montá-los com a destreza de um técnico.
Agora, vou brigar com o denotativo de nossa língua.
O Marquinho, para mim, é uma dessas pessoas que saltaram da peraltice para a “adultice” com a magnitude dos grandes artífices de um lutar melhor. Incorporou, no adulto, a sua criancice quando desistiu de um curso de Direito, mesmo sabendo que muito custou a seus pais mantê-lo na Escolinha da “tia Jack”, depois em colégios mais caros da cidade, para leva-lo àquele estágio. Para ele, o mundo não é essa mesmice e ele não se contenta com o marasmo. Ele quer mais. Ele pode mais. O mundo seu é o mundo seu e sua inquietude pode muda-lo ao seu sabor de criança, ou de adulto. A mim não me importa qual o Marquinho que se me apresenta: se aquele que quebrou dois dentes numa queda de skate ou o que se me apresenta como uma força motriz, capaz de mudar o modo de construir um destino mais centrado.Marquinho, o seu lema é lutar. De cedo, você aprendeu a negociar e a levar adiante esse seu pendor. Dele não se afaste. Há um ser lindo que de você haverá de querer o melhor para você, porque, em assim sendo, será o melhor para ela.Meu irmão, que Deus lhe dê as melhores oportunidades e que você saiba aproveitá-las. Seja num quadriciclo, numa bike, num skate, num carrão, onde quer que você esteja, busque a sua felicidade e, mesmo que volte para casa com o pescoço grudado, não importa, estarão sempre a lhe esperar, de braços abertos, seus pais, sua filha e nós, os seus amigos.Parabéns.

Cicero Braz de AlmeidaPoeta, cronista, ensaísta, cantor e compositor

13 de mai. de 2012


Só espero que, quando eu morrer, só me venham visitar aqueles que me amaram pelo que eu vivi , não porque morri.

28 de mar. de 2012


A CURVA DE GAUSS
Gabriel, bem sabes que detesto matemática, não me convence a frieza exata de seus números. Prefiro a singeleza do espírito e a graciosidade do ser humano, quando pleno de sinceridade e de amor.
Entanto, dentre todos os princípios matemáticos, todos eivados na frieza de fórmulas, a mim um me tocou de forma singular: a curva de Gauss.
A nossa vida é um ciclo que nos remete a sucessos e fracassos. Quando jovens, vislumbramos um horizonte de brilho e de sucesso. É o início da subida dessa sábia curva. Começamos num tatear e aprendemos com o caminhar.
Há vinte e nove anos chegaste a minha vida, como um presente divino. Eu estava no meio da curva, sonhando com venturas possíveis para nós dois.
A vida foi nos mostrando agruras que nos fizeram passar boa parte de nosso tempo longes um do outro.
Enquanto eu chegava ao topo da curva, ainda buscavas teu espaço dentro de um lar, que não era somente matriarcal como querem divulgar, hoje em dia, nas redes sociais.
Meu filho, estou na minha fase outonal, enquanto estais na primaveril. Estou descendo a curva e tu nem chegaste a meio caminho. Esse é o teu tempo. Aproveita. Cuida de produzir o que a tua capacidade e inteligência te permitem. Que te cobrem, de ti mesmo, exigências para uma descida da curva com louros de vitórias, e não com lágrimas de fracassos.
A curva de Gauss, para mim, não é uma fórmula simples de matemática. É a divisora da existência e das realizações humanas: quem souber escalá-la com parcimônia e determinação, terá pouso suave no regresso às últimas etapas da vida, a que todos estamos fadados.
Meu filho, no teu aniversário eu só tenho no olhar o brilho da felicidade que essa data me proporciona. Só rogo a Deus que, nessa curva, Ele te dê toda a força na subida e o necessário apoio na descida. Aproveito para te declarar amor eterno.
Feliz Aniversário, filho do meu coração. Felicidades mil.

Para o meu filho, Gabriel, por ocasião de seu aniversário.

13 de mar. de 2012

PARA O AMOR, NÃO HÁ BARREIRAS
Para Renato Assunção e Gabriella Mendes

No hiato do teu sorriso
encontro pontos de união,
unindo cordões, antes umbilicais.
Teus olhos são meus faróis.


Meu cheiro mulato fascina
tua brejeirice menina.
Lágrimas não são de saudade:
Soluços são de felicidade.


Minha alma, em seu  torpor,
tateia entre lençóis,
onde nos amamos nós.
Perdido de amor, te busquei.
Tuas mãos eu afaguei, nas sombras da escuridão,
mas nada de te encontrar.


A vida não vai ocultar meu caminho.
Não tenho medo.
Mas tenho sim, tenho um segredo...
mas esse eu posso contar:
o único verbo que eu sei conjugar
é o verbo TE AMAR!