Chegamos ao fim de mais uma disputa eleitoral para Presidente do Brasil. Uma disputa ferrenha, porém eivada de atos e fatos que denegriram a sua essência, mormente por ataques gratuitos e invencionices de um candidato em seu afã de conquistar o eleitorado brasileiro.
Durante esses três meses de disputa, veio-me à mente o título desse modesto texto numa alusão ao livro de Vicente Blasto Ibáñez, mais tarde levado às telas sob a correta direção de Rouben Mamoulian.
O drama a que me refiro, sucesso nos idos de 1942, conta a trajetória de um toureiro espanhol, seus amores, fama e desilusões até a sua morte, praticamente na arena, quando de sua fase outonal da fama.
Mas, o que teria a ver essa lembrança com as nossas eleições, talvez lhes ocorra essa pergunta. Até onde o melodrama espanhol calharia com as aspirações dos concorrentes?
Em primeiro lugar, em jogo estava a briga pelo continuísmo ou não de um grupo, no poder há oito anos, que se proclama autor de uma mudança radical na forma de governar e, numa forma populista, conseguiu incluir milhões de miseráveis na linha dos acolhidos pela sociedade, mormente a de consumo.
O que fazer para derrubar do poder alguém que chega ao término de seu mandato com quase cem por cento de aprovação sem macular sua imagem perante o eleitorado e, ao mesmo tempo, induzir o eleitorado a acreditar em erros e desacertos apontados ao longo da campanha e, dessa forma, ter de volta o poder antes perdido? Como atacar tal governo, aceitando que ele era a continuação do anterior, criticá-lo ferozmente, apontando para mudanças de rumo sem contudo poder dissociá-lo de seu antecessor? Mais ainda, como defender o seu suposto mentor e não poder usar sua imagem, correndo o risco, como de fato aconteceu, de não amealhar os votos necessários ao seu intento?
A arena estava montada, o touro escolhido e vamos às espadas para derrotá-lo, minar suas forças não interessando a baixeza dos golpes aplicados. Nunca se viu na história das eleições desse país tamanho desespero e tamanha avidez em jogar palavras sem nexo, plantar-se tantas mentiras. Mas a arena estava ali e uma platéia ávida por sangue também.
Ao candidato oposicionista restou o apelo às crenças desse povo já tão crente. Nunca em sua vida comeu tanta hóstia, leu tantos versículos de uma Bíblia que, talvez, um dia tenha negado, tal e qual o seu mentor político. O que interessa é o sangue para ofertar ao povo.
Nas campanhas ,das quais esse operário que hoje comanda o país participou, nunca se viu tanto preconceito, tanto ódio. Ele afrontava as elites, era o risco iminente para um país emergente; mudaria a cor da bandeira do Brasil, pintaria a batina do Padre Cícero de vermelho e outras sandices mais.
Agora, a candidata da situação representa a própria encarnação do satanás, como se negasse que o Deus de quem tanto falam só existe porque a outra força também existe. É o velho jogo do bem contra o mal. Quanta ignorância! Nunca se falou tanto de aborto com tanta irresponsabilidade, somente para atrair votos de carolas e de quem vive de rezas como se isso fosse uma moeda de troca. Quantas armações idiotas forjadas por uma rede de televisão que pouco se importa com a moralidade e com os bons costumes dos lares brasileiros e com o aval de uma igreja que não quer perder o poder e o dinheiro que isso representa.
Senhor Serra, o senhor foi abortado da nossa prática eleitoral, o sangue que V.Sa queria misturar com areia nessa guerra sórdida não vingou. Reveja seus conceitos éticos, se é que os tem, assim como o Partido que lhe patrocina. Muitos votos foram para o seu lado por conta dessa sua peregrinação religiosa o que lhe qualifica a se ordenar padre, com sobras. Porém, cuidado! antes de sair falando de quem é a favor do aborto, olhe para seu passado e , como aproveitador da idéia dos outros que é, pois só assinava leis e projetos já criados, assuma que uma delas foi a regulamentação do aborto financiado pelo SUS. Sou favorável a seu ato, foi um gesto nobre, raríssimo em sua personalidade.
Acabou-se Sr. Serra, finalmente. O que esperamos é que no próximo embate o seu Partido apresente alguém com hombridade suficiente para ter condições de governar esse País e não procurar jogar sangue na areia onde você também pisa.
Resta à Igreja afastar-se de temas afetos a foro íntimo. A Igreja, com suas atuações sabidamente tendenciosas, deveria ater-se a seus problemas, que são tantos, cuidar para não perder fregueses para outras seitas, para mim, tanto ou mais inferiores. Não se meta na legislação de um País que não é seu de origem, posto que questões como o aborto devem ser precedidas de uma discussão inteligente do povo e do Congresso e não nos ridículos sermões de tão ridículas missas. Povo religioso é povo ignorante e pobre, massa fácil de manobra para tantas filiais de igrejas menores, entanto tão maléficas quanto as maiores. Faça apenas seus séquitos rezarem para não ganhar os bens materiais, esses reservados a vocês, e somente o reino de deus tão loteado ao longo dos séculos.
Finalmente, no próximo embate, escolham bem a arena e o touro e o que representarão, se a descabida paixão que leva à morte os princípios morais mais comezinhos, isto é o SANGUE, ou se a leveza do respeito, a obediência às leis morais e a justeza dos compromissos, isto é o chão, ou seja, a AREIA.
Fortaleza, 31 de outubro de 2010
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