13 de nov. de 2010

Prefácio do Livro de Jevan Siqueira - Gosto de Saudade

                                                 O sertão é pródigo em histórias e estórias. Casos são repassados por inúmeras gerações. São transcendentais. Causam-nos espécie pela sua simplicidade, pela forma como são contados e cada um tem a sua interpretação própria, pela sua idiossincrasia.

                                                 Debaixo de uma mangueira muito se falou da vida, dos seus percalços e de suas dificuldades. Se o sol não era abrasivo aí é que, com bons goles de café, feito num fogão de lenha, servido num bule de ágata e em canecas similares a gente propunha soluções e sonhava com dias melhores. Cafezinho esperto que fazia demorar a conversação nos alpendres das casas grandes. A vida não era esta que passa na televisão. Notícias se ouviam pelos “raidinhos” de pilha colados nos ouvidos do caboclo, pitando um cigarro de palha quando retornava da roça. Ele é que dava a interpretação que, às vezes, demorava uma semana para o povo entender.

                                                 Você, Jevan, meu caboclo amigo, saído lá do sertão, de onde “fulorava “ os “gái” do imbuzeiro, de onde caía a “fulô” do juazeiro e do tingá, soube compreender e entender por que nós somos tão criativos. O sertanejo é um sábio e sabe “mió” do que ninguém assuntar as coisas sérias da vida. É rude, porém honesto; é simples, porém sincero; desconfiado, porém amigo.

                                                 Hoje, lendo o seu livro, quedei a imaginar. Este Siqueira do Cedro, cidadão de Juazeiro, morando em Fortaleza, com mulher, filhos e tudo, meteu-se a ser poeta além de excelente cantor. Pastorei seus versos e prosas, uma leitura gostosa que passo a apresentar.

                                                 Tudo que aqui está escrito é de muita autenticidade e tudo aqui é verdade e sem a máxima pretensão de sua imortalidade. São momentos inenarráveis por outros que não os vivenciaram . O propósito é o livre ler e se descontrair com o verso caboclo, com a prosa fácil, como se estivéssemos debaixo de uma mangueira, pitando um cigarro de palha, bicando uma cachaça, ouvindo uma voz bonita puxada por um violão e a lua sem seu perdão, escutando uma canção, proseando com todo mundo.

                                                 É um livro danado de gostoso. Deus do céu! Como é bom a gente sentar, sem nenhuma preocupação na vida, e abrir este livro em qualquer página e se divertir com os casos narrados e rimados pelo poeta Jevan. É uma viagem pelo interior e pelo nosso interior. Nele vemos passagens de nossa vida. Somos passageiros íntimos desta viagem que marcou a vida de todos nós.
                                                 É um orgulho indescritível fazer parte deste livro. Felizes estamos nós que conhecemos o Jevan Siqueira, como cantor, pai, marido avô e amigo. Uma plêiade juazeirense, cedrense e fortalezense estará feliz com seu novo salto, este de escritor que, embora não queira hastear bandeiras mais altas, há de se perpetuar em nossos corações, como exemplo de um homem que, de forma humilde e singela, descreveu momentos importantes e inesquecíveis em sua vida e, agora, creiam, em nossas também.
Fortaleza, 02 de outubro de 2007
Cícero Braz de Almeida

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