UM
CAMINHAR DO MENINO PARA O ADULTO
Na
realidade, gostaria de titular esse texto como O Caminhar Entre a Peraltice e a
Adultice. Mas, de imediato, o professor Word tinge de vermelho esse vocábulo,
que não existe. Claro, isso não está dicionarizado. Ora bolas, mas eu quero me
expressar assim, afinal falo sobre meu amigo Marquinho. Amigo de longas datas.
Peralta ontem, adulto hoje.
Há
alguns anos, o casal Luísa e Paulo recebeu mais uma cria. O dia da semana
talvez não importe agora. Era um sete de janeiro de 1984 e esse rebento
arrebentou no Cura D’ars, um hospital aqui de Fortaleza.
Meu
contato com o Marquinho, nascido Marcos Venícius Silveira dar-se-ia anos depois, início do governo Sarney.
Aquele
menino me chamava atenção por sua argúcia
e pelo seu jeito irrequieto, de quem queria descobrir o mundo com o toque de
suas mãos ou com os passos de sua perna. De tudo dava conta. Impossível
alcançar seu tirocínio e sua rapidez em buscar aquilo que o seu mundo
particular queria para si.
De
cedo, já aprendera a andar de bicicleta e desafiava os pedestres na Marechal Rondon,
onde morava, com incursões perigosas em seu Skate. Desafiava os perigos que se
lhe apresentavam, de peito aberto.
Confesso,
a forma como o Marquinho encarava a vida, dava-me, no bom sentido, inveja.
Faço,
agora, um arco no tempo e me permito voltar àquele passado.
Os
pais viviam uma situação comum a todos aqueles que, sem recursos, brigavam por
um lugar ao sol. Pequenos comerciantes que, com muita humildade, enfrentaram as
agruras dos tempos difíceis e que sofreram com muitas peraltices do seu menino.
Marquinho
sempre foi afoito, diferente do seu irmão, o Paulo Henrique. Quantas e quantas
vezes presenciei o Marquinhos adentrar ruas do Trilho, com objetos pequenos e
quase sem valor e retornar à casa, com o pescoço grudado ( parecia um rosário
de grude), com objetos de maior valor. Vaticinei: eis um grande comerciante, em
potencial.
Na
sua inquietude, desmontava aparelhos elétricos, só pela curiosidade, para
depois montá-los com a destreza de um técnico.
Agora, vou brigar com o denotativo de nossa língua.
O Marquinho, para mim, é uma dessas pessoas que saltaram da
peraltice para a “adultice” com a magnitude dos grandes artífices de um lutar
melhor. Incorporou, no adulto, a sua criancice quando desistiu de um curso de
Direito, mesmo sabendo que muito custou a seus pais mantê-lo na Escolinha da
“tia Jack”, depois em colégios mais caros da cidade, para leva-lo àquele
estágio. Para ele, o mundo não é essa mesmice e ele não se contenta com o
marasmo. Ele quer mais. Ele pode mais. O mundo seu é o mundo seu e sua
inquietude pode muda-lo ao seu sabor de criança, ou de adulto. A mim não me
importa qual o Marquinho que se me apresenta: se aquele que quebrou dois dentes
numa queda de skate ou o que se me apresenta como uma força motriz, capaz de
mudar o modo de construir um destino mais centrado.Marquinho, o seu lema é lutar. De cedo, você aprendeu a
negociar e a levar adiante esse seu pendor. Dele não se afaste. Há um ser lindo
que de você haverá de querer o melhor para você, porque, em assim sendo, será o
melhor para ela.Meu irmão, que Deus lhe dê as melhores oportunidades e que
você saiba aproveitá-las. Seja num quadriciclo, numa bike, num skate, num
carrão, onde quer que você esteja, busque a sua felicidade e, mesmo que volte
para casa com o pescoço grudado, não importa, estarão sempre a lhe esperar, de
braços abertos, seus pais, sua filha e nós, os seus amigos.Parabéns.
Cicero Braz de AlmeidaPoeta, cronista, ensaísta, cantor e compositor
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